Pousada Garoa: polícia indicia três pessoas por incêndio com 11 mortes em Porto Alegre
Dono de pousada e dois servidores públicos vão responder por incêndio culposo com resultado morte. Tragédia ocorreu no final de abril, em hospedaria destina...
Dono de pousada e dois servidores públicos vão responder por incêndio culposo com resultado morte. Tragédia ocorreu no final de abril, em hospedaria destinada a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Incêndio que atingiu pousada em Porto Alegre Reprodução/TV Globo A Polícia Civil indiciou três pessoas por incêndio culposo com resultado morte no caso da Pousada Garoa, em Porto Alegre. O incêndio na hospedaria, destinada a pessoas em situação de vulnerabilidade social, deixou 11 mortos no dia 26 de abril. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Foram indiciados o proprietário da pousada, André Kologeski da Silva, e dois servidores públicos da Prefeitura de Porto Alegre: o presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Cristiano Atelier Roratto, e a fiscal do contrato da pousada junto à prefeitura, Patrícia Mônaco Schüler. Veja abaixo o que dizem as defesas. O delegado Daniel Ordahi afirmou que a pousada não tinha condições para funcionar. De acordo com a investigação, o imóvel tinha espaços com madeira velha e instalações elétricas expostas. "Poderia hospedar as pessoas? É claro que poderia. Agora, deveria dar as condições mínimas", disse Ordahi, em entrevista à Rádio Gaúcha, do Grupo RBS. O delegado explicou que os servidores da Fasc foram indiciados porque o órgão era responsável pelas vistorias, mas que não apontou as irregularidades do imóvel. "Esses relatórios periódicos foram preenchidos. Nós tivemos acesso a eles, e em nenhum dos relatórios é mencionada nenhuma irregularidade", apontou o delegado. O delegado ainda explicou que a conclusão foi por incêndio culposo porque os indiciados não assumiram o risco do resultado, mas que foram "omissos" e "negligentes" em não adequar a pousada, no caso do dono, e em não reportar as irregularidades, no caso dos servidores. "Não me agrada nada em indiciar servidores públicos no exercício da função deles, enfim. Mas é o que o inquérito trouxe, que os indícios trouxeram. Aconteceu um evento, resultou na morte de 11 pessoas (...) e essas duas pessoas, pelos indícios que eu tenho correcionados no inquérito, colaboraram de alguma forma que esse evento ocorresse da forma como ocorreu", disse Ordahi. Se o Ministério Público concordar com as conclusões da polícia e a Justiça condenar os investigados, a pena pode chegar a quatro anos de prisão, disse Daniel Ordahi. O advogado Lino Troes, que representa o proprietário da pousada, André Kologeski da Silva, disse que aguarda o posicionamento do Ministério Público e do Judiciário, e que não recebeu o relatório final do caso. O advogado Fabio Luis Correa dos Santos, da defesa de Cristiano Atelier Roratto, afirma que o inquérito "preferiu centrar-se no contrato entre a Prefeitura e a Pousada Garoa, em vez de considerar os elementos que indicam a prática de ato criminoso". A defesa de Patrícia Mônaco Schüler ainda não foi localizada. A Fasc disse que "somente irá se manifestar após ser notificada sobre a conclusão do inquérito". Relembre: incêndio na Pousada Garoa deixou 11 mortos Relembre o caso O incêndio ocorreu em uma das unidades da Pousada Garoa, na Avenida Farrapos, na região central de Porto Alegre. O prédio fica entre as ruas Barros Cassal e Garibaldi, a poucos metros da Estação Rodoviária. O incêndio começou por volta das 2h30 da madrugada de 26 de abril. O fogo se espalhou rapidamente pelos quartos da pousada. Para fugir das chamas, algumas pessoas se jogaram das janelas do segundo e do terceiro andar. Os bombeiros encontraram as 10 vítimas em cômodos da pensão. Uma 11ª pessoas morreu no hospital após ser socorrida. Incêndio em pousada em Porto Alegre g1 Sobreviventes relataram como conseguiram escapar das chamas. O vendedor ambulante Jorge Antônio Ferreira contou que acordou com "estouros, assim que iniciou o fogo". Ele conseguiu resgatar a esposa do prédio. "Não queriam deixar eu entrar, porque o fogo já tinha tomado conta, mas eu entrei. Não vou deixar minha esposa morrer. Entrei igual e, graças a Deus, consegui pegar ela", fala o homem. Morador resgatou a mulher de pousada atingida por incêndio em Porto Alegre Reprodução/RBS TV Marcelo Wagner, de 56 anos, residia com a irmã na pousada. Ele acredita que ela não conseguiu sair do local com vida. "Acho que minha irmã não conseguiu sair. Ela morava lá em cima. Foi muito rápido, gritaram 'fogo!' e o fogo estava dois quartos do lado do meu", afirma. 'Acho que a minha irmã não conseguiu sair', diz sobrevivente de incêndio Situação da pousada O local, que é privado, recebia pessoas em situação de vulnerabilidade social. Das 30 pessoas que estavam no espaço no momento do incêndio, 16 tinham a estadia custeada pelos cofres públicos. A empresa teve contrato renovado com a Prefeitura de Porto Alegre em dezembro de 2023 por mais 12 meses, ao custo de R$ 2,7 milhões. Os bombeiros afirmaram na época que a pousada operava irregularmente, porque não tinha Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) protocolado. A Prefeitura de Porto Alegre afirmou, na ocasião, que a documentação da empresa dona da pousada junto ao município estava em dia e que havia autorização para a operação como hospedagem. "Quanto ao PPCI, compete à empresa que presta o serviço providenciar e compete aos bombeiros a deliberação sobre esse tema", disse, em abril, o prefeito Sebastião Melo (MDB). O proprietário da empresa dona da pousada, André Luis Kologeski da Silva, afirmou, na época, que o incêndio teria sido criminoso e que o imóvel era regularizado. "Dois pontos importantes: foi incêndio criminoso, colocaram fogo. Temos a documentação exigida. Toda regularizada. Estaremos providenciando envio à prefeitura", afirmou. Em novembro de 2022, outra pousada da Garoa sofreu um incêndio em Porto Alegre, com uma pessoa morta e 11 feridas. Com uma câmera escondida, a RBS TV entrou em outras pensões mantidas pela empresa. Quem acessava o site da rede deparava com quartos simples, limpos e bem mobiliados. O destaque era o custo acessível, a partir de R$ 550 mensais. Mas, ao ingressar nos prédios, a realidade era outra. Em uma das pensões da rede, na Rua José do Patrocínio, no bairro Cidade Baixa, a mobília era composta por um colchão velho, que parecia estar apodrecendo, e um pequeno armário. O cheiro era forte no cômodo. Quase na frente da porta do quarto, havia lixo no corredor. Quarto de pousada da rede Garoa em Porto Alegre Reprodução/RBS TV Vistorias realizadas por equipes da Prefeitura de Porto Alegre apontaram uma série de problemas estruturais e elétricos em unidades da Garoa. O documento identificou quartos sem janela, extintores vencidos, infiltração, sujeira e presença de baratas. A repórter Adriana Irion, de GZH e que integra o Grupo de Investigação da RBS (GDI), teve acesso ao relatório. "Barata e rato têm no entorno das nossas casas todas. Para a assistência social, as pousadas eram vistoriadas e as condições eram dignas, corretas e adequadas", afirmou o então secretário do Desenvolvimento Social, Léo Voigt, em entrevista ao Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, no dia 30 de abril. Um ex-funcionário da empresa que administra as pousadas da rede Garoa disse à RBS TV que as fiscalizações feitas nos locais eram previamente avisadas por uma servidora da Prefeitura de Porto Alegre. De acordo com o homem, que preferiu não ser identificado, colaboradores eram orientados a "maquiar" os problemas, como a sujeira do local e os quartos em condições inadequadas. Ex-funcionário de empresa que administra as redes de pousadas Garoa faz denúncia VÍDEOS: Tudo sobre o RS